O panorama político da esquerda francesa está a ser sacudido nestes últimos meses pelo anúncio da criação de um Novo Partido Anticapitalista (NPA) impulsionado pela Ligue Communiste Révolutionnaire (LCR) de Olivier Besancenot. O NPA foi lançado precisamente depois das eleições presidenciais de Abril de 2007, que confirmaram Besancenot como a opção mais sólida à esquerda do Partido Socialista (PS), com 4,1% de votos, longe do 1,9% do Partido Comunista (PCF), 1,5% dos Verdes, 1,3% da trotskista Lutte Ouvrière e 1, 3% do altermundialista José Bové. O lançamento do NPA tenta traduzir em força militante organizada o apoio social e eleitoral de Besancenot. O novo partido, cujo nome é ainda provisório, define-se como anticapitalista, internacionalista, ecologista, feminista... Situa o combate contra o neoliberalismo numa perspectiva de ruptura com o capitalismo e quer ser uma organização militante e não um partido eleitoral-profissional.
A independência e a não colaboração com governos social-liberais e com o PS será uma das propostas estratégicas definidoras da nova formação. De facto, este foi o principal elemento de delimitação da candidatura de Besancenot nas últimas eleições presidenciais relativamente a outras formações de esquerda como o PCF, os Verdes ou Jose Bové, que não excluíam a colaboração, com graus variáveis conforme o caso, com os socialistas.
O lançamento do NPA, que se constituirá formalmente em finais de Janeiro de 2009, despertou uma ampla expectativa, atraindo para as suas fileiras, sindicalistas combativos, estudantes, jovens das barricadas populares, ex-militantes decepcionados de outras formações de esquerda, intelectuais, etc. Até agora, constituíram-se uns 300 comités locais ou sectoriais que agrupam umas 9.000 pessoas (a LCR tem na actualidade uns 3.000 afiliados).
Besancenot converteu-se numa das figuras mais populares da esquerda francesa e na principal face visível da oposição a Sarkozy, num contexto onde o PS não representa uma alternativa real à política do governo. Uma sondagem do passado mês feita pela CSA indicava que 49% dos inquiridos consideravam Besancenot como o principal rival de Sarkozy. A popularidade de Besancenot não é um elemento pontual e, segundo um estudo da Fundação Jean-Jaurès, consolidou-se em três processos: a campanha pelo NON na Constituição Europeia em 2005, a mobilização contra o Contrato de Primeiro Emprego (CPE) em 2006 e as presidenciais de 2007.
Perante a irrupção do NPA, o conjunto da esquerda francesa começou a mexer-se. Os socialistas, que se encontram em plena luta pela liderança do partido, colocaram recentemente em marcha um grupo de trabalho para estudar as consequências da emergência "de um pólo de radicalidade". O Partido Comunista, afogado numa larga crise histórica, decidiu apostar de novo numa linha de colaboração com os socialistas em nome da unidade contra a direita, excluindo acordos com o NPA. Os Verdes, também em crise, tentam recompor um novo bloco ecologista, envolto numa perspectiva estratégica de colaboração com o PS, através da aliança entre Daniel Cohn-Bendit, representante da sua ala mais direitista e antigo partidário da Constituição Europeia, o popular jornalista Nicolas Hulot e José Bové. De momento, no entanto, é a irrupção do NPA o que marca a pauta nas fileiras da esquerda francesa. Não parece em absoluto uma má notícia.
Fonte: El Nuevo Partido Anticapitalista sacude a la izquierda
Artigo original publicado a 25/10/2008
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Alexandre Leite é editor de http://investigandoonovoimperialismo.blogs.sapo.pt e membro de Tlaxcala, a rede de tradutores pela diversidade lingüística. Esta tradução pode ser reproduzida livremente na condição de que sua integridade seja respeitada, bem como a menção ao autor, aos tradutores, aos revisores e à fonte.
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